SARESP EM REVISTA
Exemplo 1

Nível abaixo do básico
Compõe a descrição do ponto 175 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H10 – Estabelecer relações entre imagens (fotos, ilustrações), gráficos, infográficos e o corpo do texto, comparando informações pressupostas ou subentendidas.
Prática de Linguagem: Leitura




Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de articular a linguagem verbal com outras semioses, exploradas em um gráfico, que trata a diferença na expectativa de vida em diferentes cidades do Brasil. No gráfico, são apresentadas as expectativas de vida de homens e mulheres em cinco cidades brasileiras, sendo cada um dos gêneros representado por uma cor. O comando do item solicita que os alunos respondam em quais das cidades apresentadas as mulheres vivem mais. Para tanto, os respondentes deveriam utilizar as informações da coluna da direita (cor roxa), localizar a maior idade e fazer a devida correlação com a cidade, linha horizontal. Chegariam a São José do Rio Preto, onde a expectativa de vida das mulheres é de 80,3 anos.
O item obteve bons índices de respostas nos grupos, chegando a 97,8 para o grupo de melhor rendimento e a 76,5 para o de menor rendimento. No grupo de menor rendimento, as alternativas A, B e D foram consideradas corretas, respectivamente, por 10,7%, 6,5% e 5,5% dos alunos. Esse resultado mostra que, apesar de ser um item de identificação de informações, muitos alunos ainda têm dificuldades para articular a linguagem verbal a outros sistemas semióticos, provavelmente não entendendo como os gêneros textuais que se valem da mistura desses sistemas organizam e hierarquizam as informações. Provavelmente, alunos que assinalaram A devem ter considerado apenas os dados relativos a três cidades, todas na casa do 70, sendo a informação contida nesta alternativa a maior expectativa de vida entre as demais cidades. Os alunos que assinalaram a alternativa B podem tê-lo feito em razão da posição do nome da cidade no gráfico, já que é o primeiro na disposição visual (de cima para baixo). Por fim, quem assinalou D deve analisado superficialmente as informações, talvez sem entender exatamente o tipo de tarefa solicitado pelo comando da questão. Portanto, ainda que a questão tenha tido um bom resultado para os dois grupos, há que se considerar que existem alunos que ainda apresentam dificuldades para entender como as informações se organizam em diferentes sistemas semióticos, o que pode sinalizar até mesmo a dificuldade para entender determinados gêneros que são organizados, justamente, por esse tipo de articulação de informações. É necessário, à vista desses dados, a retomada contínua dos gêneros e a ampliação do trabalho com as especificidades da linguagem verbal em articulação a outras semioses, entendendo os sentidos que decorrem nesses casos.
Exemplo 2

Nível básico
Compõe a descrição do ponto 250 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H28 – Identificar o efeito de sentido produzido em um texto literário pela exploração de recursos ortográficos ou morfossintáticos.
Prática de Linguagem: Leitura





Comentário
O item avalia se o aluno é capaz de analisar, em leitura de texto literário ficcional, o recurso linguístico decorrente do emprego dos pontos de exclamação presentes nas falas das personagens. No texto, Juju, a afilhada de Léonie, virou grande novidade no cortiço quando seus cabelos, outrora castanhos, tornaram-se louros. Para mostrar essa novidade e a visão positiva do que representou, vários termos e expressões podem ser retirados para exemplificação: “revolução”, “sucesso”, “radiante de alegria”, “ídolo milagroso”, “elogios”, “procissão”, “entusiasmo”. Na leitura, os alunos deveriam entender o emprego desses termos e expressões na composição de um cenário de acolhimento e admiração com relação à mudança na cor dos cabelos de Juju. Da mesma forma, nas falas das personagens, externa-se essa admiração, tanto pelo recurso ao emprego de orações exclamativas quanto pelo conteúdo dessas falas: “– Rica pequena!...”, “– É mesmo uma lindeza de criança”, “– Uma criaturinha dos anjos!”, “– Uma boneca francesa!”, “– Uma menina de Jesus!”. No comando da questão, explica-se que o contexto das informações é muito importante para entender o uso do ponto de exclamação e, a partir dessa explicação, solicita-se que os alunos identifiquem o que expressam os reiterados pontos de exclamação nas falas das personagens. Os respondentes deveriam, portanto, entender o que representou a mudança de cor dos cabelos de Juju para os moradores do cortiço, e isso deveria levar em conta não apenas as falas, mas também as informações que as precedem e as sucedem.
A análise dos resultados mostra que os grupos tiveram expressivas diferenças na percepção da tarefa proposta pelo comando do item. Para o grupo de melhor desempenho, o índice de acerto chegou a 93,3%, ou seja, foi uma questão que não apresentou problemas para a resolução. Já para o grupo de menor rendimento, o índice de acerto ficou em 38,5%. A alternativa A foi considerada correta por 20,8% dos alunos; a alternativa B, por 23,8%; e a alternativa C, por 16,4%. Esse resultado mostra que, neste grupo, a questão foi de difícil resolução. Como já explicado, para responder ao item, os alunos deveriam entender o contexto das informações: uma situação de novidade, que resultou em uma admiração coletiva aos cabelos louros de Juju. A frase que antecede as falas deixa claro esse entendimento: “E os elogios não cessavam...”. Assim, percebe-se uma clara incoerência entre os distratores: em A, fala-se em “dúvida dos moradores”, sentido que não está nem explicitado nem sugerido no texto; em B, fala-se em “cólera dos moradores”, sentido que também não está proposto no texto, sugerindo que muitos alunos podem ter assinalado esse distrator por falta de conhecimento do termo “cólera”, que é pouco usual entre os mais jovens; por fim, em D, fala-se em “tristeza dos moradores”, sentido que também não está no texto e se contrapõe claramente à ideia de “elogios”. Os resultados mostram, portanto, que existe uma parcela significativa do aluno que ainda tem dificuldade de leitura de texto literário e de entender o uso dos recursos linguísticos na produção de sentido nesses textos. Cumpre, portanto, que as práticas de leitura do texto literário visem à articulação da relação entre forma e conteúdo, para que os alunos dominem e manejem melhor as informações, o que possibilitará uma leitura mais efetiva e producente dos textos literários, podendo abrir caminho também para a ampliação da sensibilidade linguística para analisar textos de outros gêneros.
Exemplo 3

Nível adequado
Compõe a descrição do ponto 300 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H13 – Localizar um argumento utilizado pelo autor para defender sua tese em um texto argumentativo.
Prática de Linguagem: Leitura





Comentário
O item avalia se o aluno é capaz de identificar um argumento explícito em texto argumentativo. O trecho apresentado para os alunos traz uma análise do autor em relação ao racismo e à discriminação presentes na sociedade contemporânea. Para justificar essa existência, o autor incorre pelo passado histórico, explicando como a relação de subordinante e subordinado sustentou a hierarquia social, que cristalizou nos diferentes grupos sociais a situação de inferioridade e exclusão. Dessa forma, a alienação e a depreciação da identidade pessoal foram ideologicamente construídas como um problema dos negros e, do modo como isso se impôs como pensamento social, estes acabaram por acreditar que, de fato, sua exclusão se devia às suas características pessoais.
A análise dos dados mostra que a questão impôs desafios tanto ao grupo de melhor desempenho quanto ao de menor desempenho. No primeiro, 62,5% acertaram a resposta; no segundo, 26,1%. O primeiro grupo apresenta um melhor desempenho, mas ainda assim 37,5% de alunos desse grupo assinalaram distratores. No grupo de menor desempenho, foram 73,9%. A alternativa C traz uma afirmação coerente com o texto: “existem razões históricas para tal sentimento de inferioridade, as quais geraram exclusão social e imposição de características estabelecidas por um grupo dominante.” Para chegar a essa resposta, os respondentes deveriam estar atentos ao assunto tratado no texto e à abordagem que o autor faz desse assunto, entendendo as justificativas apresentadas para contestar a ideia de que o preconceito e a exclusão social sejam decorrentes de características pessoais das pessoas negras. A frase final do texto, inclusive, traz de forma bem explícita essa informação: “Muitos negros são induzidos a crer que a sua condição inferior é decorrente de suas características pessoais, deixando de perceber que, de fato, assumem a discriminação exercida pelo grupo dominante.” Nos distratores, há informações explícitas que contradizem o ponto de vista do texto: em A, afirma-se que “não se pode afirmar que haja consequências na atualidade”, o que já deveria ser suficiente para os alunos descartarem essa opção de resposta, porém, nos dois grupos, ela obteve índices consideráveis: 12,9% no grupo de melhor rendimento e 25,2% no de menor rendimento. A sequência do enunciado de A permitiria que, com uma boa leitura do texto, essa resposta fosse descartada, pois aí se diz que “a depreciação da identidade pessoal e do pertencimento étnico foram sendo diluídas ao longo da história”. Os alunos que assinalaram esse distrator entendendo-o como correto devem ter feito uma leitura superficial das informações, sem terem conseguido entender plenamente o tema apresentado e a argumentação do autor. Na alternativa B, a primeira parte do enunciado pode ter atraído a atenção dos alunos que a tomaram como correta: “razões históricas no Brasil são determinantes para a situação de inferioridade do negro no país”. Assim, 11,8% dos alunos no grupo de melhor rendimento e 28,5% no de menor rendimento escolheram esse distrator. Contudo, a segunda parte do enunciado traz informação incoerente com a argumentação apresentada: “uma vez que eles rejeitam a discriminação exercida pelo grupo dominante”. Como já apontado anteriormente, o autor afirma que “Muitos negros são induzidos a crer que a sua condição inferior é decorrente de suas características pessoais, deixando de perceber que, de fato, assumem a discriminação exercida pelo grupo dominante.” Por fim, a alternativa D foi considerada correta por 12,6% dos alunos no grupo de melhor rendimento e 19,3% no de menor rendimento. Esse distrator começa com uma informação que contradiz o texto: “por terem vivenciados processos históricos diferentes”. O autor afirma que “Índios e negros partilharam desde então situação de inferioridade e exclusão social”. Os alunos que assinalaram esse distrator desconsideraram esta afirmação e tiraram conclusão não compatível com os sentidos do texto. Portanto, os resultados mostram que o trabalho com a construção da argumentação em gêneros diversos é uma prioridade para os alunos do 9.º ano. O grupo de melhor rendimento tem um índice representativo que sinaliza a dificuldade dos alunos para entender como a argumentação se constrói no texto, pois 37,5% deles não conseguiram chegar à resposta correta do item. No grupo de menor desempenho, a situação é mais preocupante, pois 73,9% assinalaram respostas dos distratores. Para este grupo, a sistematicidade do trabalho com gêneros argumentativos se faz mais urgente, devendo explorar a argumentação desde noções mais elementares até chegar a textos mais complexos, auxiliando os alunos a trabalharem a leitura para que entendam a construção de sentido do texto argumentativo, que passa necessariamente pela identificação do tema abordado, do posicionamento do(s) sujeito(s), na escolha e hierarquização de argumentos, na defesa de um ponto de vista.
Exemplo 4

Nível Avançado

Compõe a descrição do ponto 325 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H23 – Identificar o efeito de sentido produzido em um texto pelo uso de determinadas categorias gramaticais (gênero, número, casos, aspecto, modo, voz, etc.).
Prática de Linguagem: Análise linguística / semiótica




Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de inferir o efeito de sentido decorrente do emprego de recurso de coesão sequencial em textos de diferentes gêneros. A tarefa proposta para os alunos era identificar o sentido da conjunção “Porém”, presente em texto argumentativo que trata dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Na primeira parte do texto, afirma-se que esses objetivos orientam os municípios brasileiros na busca de soluções para problemas de escala global, como forma de efetivação dos objetivos e de redução das desigualdades. Na sequência, as informações seguem iniciando com a conjunção “Porém” seguida da afirmação “alguns municípios insistem numa visão de desenvolvimento fortemente predatória”. Portanto, identifica-se que existe entre as informações uma relação de oposição de sentido.
Embora pareça um item simples e de fácil resolução, os resultados mostram que os grupos tiveram dificuldades para chegar à resposta correta. No de melhor desempenho, 49,4% chegaram ao gabarito; no de menor desempenho, 27,9%. Assim, nos dois grupos, menos de 50% conseguiram identificar corretamente o sentido de oposição decorrente do uso da conjunção. As respostas nos distratores sinaliza dificuldade dos alunos para inferir o sentido decorrente do emprego de conjunções: A (Conclusão) foi assinalada por 4,9% dos alunos do grupo de melhor desempenho e por 25,9%, no grupo de menor desempenho, provavelmente motivados pela falsa ideia de que a conjunção que aparece mais ao fim do texto tem por objetivo indicar a conclusão deste; C (Consequência) foi assinalada por 21,6% dos alunos do grupo de melhor desempenho e por 30,8%, no grupo de menor desempenho, talvez pela falsa ideia da organização de informações no par “causa-consequência”, sendo que a causa estaria nas informações precedentes e, portanto, as que vieram após a conjunção seriam a consequência; D (Adição) foi assinalada por 23,9% dos alunos do grupo de melhor desempenho e por 14,6%, no grupo de menor desempenho, provavelmente porque entenderam, com engano, que as novas informações foram somadas às anteriores, como forma de complementá-las. Os resultados indicam a necessidade de trabalhar sistematicamente o emprego de conjunções, não pela nomenclatura, mas pelo efeito de sentido decorrente de seus usos em contextos e gêneros textuais variados. As conjunções têm grande importância na organização das informações, articulando o fluxo informacional, marcando os encadeamentos e sinalizando sentidos. Por meio delas, é possível recuperar a organização textual quanto à microestrutura textual – como elementos de coesão – e, além disso, há orientação da produção de sentido, fortalecendo o entendimento global por meio da coerência.