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Exemplo 1
Nível Abaixo do Básico [<250]
Compõe a descrição do ponto 225 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 2 – Reconstrução dos sentidos do texto.
H07 - Localizar e integrar várias informações explícitas distribuídas ao longo de um texto, sintetizando-as em uma ideia geral, categoria ou conceito. (GII)
Comentário
Este item apresenta aos alunos uma charge em que se vê uma família reunida na sala de TV para, supostamente, assistir ao telejornal. No entanto, ao invés de olharem para a TV, todos – pais, filho, avó, animais de estimação e até mesmo o apresentador do programa que aparece na TV – olham para seus celulares. A tarefa dos alunos é interpretar esse texto, composto apenas de elementos não verbais (com exceção do J que aparece na TV), e escolher, dentre as alternativas apresentadas, qual delas sintetiza a mensagem da charge.
Como é característico deste gênero, a interpretação adequada do texto depende, em boa medida, de um elemento pragmático, extra verbal: o conhecimento da crítica a como as relações interpessoais se estabelecem em nossa sociedade moderna e altamente tecnologizada, com a interação face a face sendo cada vez mais substituída pelas interações via mídias sociais. A forma explícita e caricata com que o uso de celulares é retratado, em que até os animais de estimação usam seus celulares, e a ampla circulação da crítica tematizada pela charge garantem o nível de dificuldade baixo para o item, o que é confirmado pelos índices de acerto. Em média, os alunos mostraram bom desempenho, com índice de acerto médio de 82,7%. Isso significa que uma ampla maioria dos alunos identificou que a alternativa que melhor sintetiza a mensagem da charge é o gabarito A (“O uso exagerado do celular”). Apesar da facilidade do item, o desempenho entre os diferentes grupos apresenta diferenças que fazem com que o índice de discriminação seja bom. Em outras palavras, o Grupo de Maior Desempenho (grupo 3) apresenta um percentual de acerto superior aos 90%, enquanto que no Grupo de Menor Desempenho (grupo 1) esse percentual é próximo de 65%. Isso significa que entre os alunos com maiores dificuldades de leitura, mais de um terço optou por um dos distratores, apesar do baixo nível de dificuldade do item. Nenhum dos distratores chamou de maneira especial a atenção dos alunos, o que torna difícil formular uma hipótese para o erro dos alunos. Porém, certamente é possível afirmar que a impossibilidade de relacionar a imagem apresentada no item com a crítica ao uso exacerbado de celulares (o que implica o uso de redes sociais, jogos, etc.) indica uma dificuldade que esses alunos têm de relacionar conhecimento de mundo com os textos a que têm acesso rotineiramente, uma habilidade central no processo de leitura. |
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Exemplo 2
Nível: Básico [250 a < 300]
Compõe a descrição do ponto 275 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 6 – Compreensão de textos literários.
H43 - Inferir o conflito gerador de uma narrativa literária, analisando o enunciado na perspectiva do papel assumido pelas personagens. (GIII)
Comentário
Este item apresenta um trecho de “Domingo no Parque”, canção composta por Gilberto Gil, que narra a trágica história de um namorado ciumento que mata seu amigo e namorada. O trecho apresentado aos alunos não inclui o fim trágico, mas até o momento em que José avista sua namorada Juliana com o amigo João e sente ciúme. A interpretação do texto não é uma tarefa simples, dado que a história, apesar de contada de forma linear, não é absolutamente explícita. De fato, o autor explora o ritmo e as imagens associadas para relatar como o “José brincalhão” é tomado, pouco a pouco, pela fúria e o ciúme, como nos versos “O espinho da rosa feriu Zé” e “E o sorvete gelou seu coração”. A tarefa do aluno é identificar o acontecimento que instaura o conflito entre os dois amigos, narrado na quarta estrofe – “Foi no parque / Que ele avistou Juliana/ Foi que ele viu / Foi que ele viu Juliana na roda com João”. Apesar de se tratar de um texto cuja interpretação exige a capacidade de fazer inferências e de compreender metáforas – processos interpretativos mais complexos –, 74,6% dos alunos pôde resolver com êxito o problema apresentado pelo item, indicando que “José avistar Juliana tomando sorvete com João” (gabarito D) é o acontecimento narrado que instaura o conflito entre José e João. “Domingo no parque” é uma canção amplamente trabalhada em livros e materiais didáticos, o que explica, em alguma medida, o êxito dos alunos. Entre os respondentes dos grupos 2 e 3, os índices de acerto foram bastante altos (75,6% e 93,7%, respectivamente). Já entre os alunos do grupo 1, menos da metade escolheu o gabarito. Essa característica das respostas dos diferentes grupos faz com que o item apresente um índice de discriminação muito bom. Em relação aos distratores, nenhum chamou a atenção dos alunos de maneira especial. Certamente, o fato de o item exigir que o aluno faça uma inferência e compreenda metáforas na interpretação da canção aumenta o nível de complexidade envolvido na tarefa apresentada. Isso explica o desempenho dos alunos menos proficientes ao mesmo tempo que indica que um trabalho consistente com materiais dessa natureza permite que os alunos, mesmo aqueles do grupo 2, que tiveram um desempenho mediano na totalidade da prova, apresentem índices altos de acerto no item.
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Exemplo 3
Nível: Adequado [300 a < 375]
Compõe a descrição do ponto 325 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 3 – Reconstrução da textualidade.
H19 – Inferir a tese de um texto argumentativo, com base na argumentação construída pelo autor. (GIII)
Comentário
Para avaliar o domínio da habilidade de inferir a tese de um texto argumentativo, o item apresenta aos alunos um trecho de um artigo de opinião publicado em um jornal de ampla circulação, que discute como o excesso de opções torna o processo de escolha mais difícil, contrariando o senso comum, que afirma que quanto mais opções, melhor será nossa escolha. A tarefa do aluno é inferir qual a tese defendida no texto, a saber, “o excesso de ofertas perturba a nossa capacidade de escolher mais cuidadosamente” (gabarito D). Trata-se de uma inferência na medida em que, apesar de a afirmação apresentada no gabarito ser feita explicitamente no texto, o modo como ela é apresentada implica uma aderência menos explícita do autor (diferentemente do que acontece no texto base do próximo item analisado) que se mostra como relatando, de maneira neutra, os resultados de um estudo. Assim, a partir da leitura completa e atenta do texto, o aluno poderia interpretar, corretamente, que o autor adere à tese que relata. Em média, 57,5% dos alunos escolheram o gabarito. Já em relação aos percentuais de acerto de cada grupo, no grupo 3, a tarefa solicitada foi realizada de forma adequada por 83,7% dos alunos; nos grupos 1 e 2, o percentual de acerto foi de 24,7% e 52,5%, respectivamente, garantindo, com esse perfil de respostas, um nível de discriminação muito bom para o item. Em todos os grupos, os distratores A (“a escolha adequada depende necessariamente de uma grande variedade de opções”) e E (“quanto mais possibilidades existirem, maior a chance de fazer as escolhas mais acertadas”) foram os mais assinalados. Ou seja, as duas alternativas que confirmam o senso comum foram as que mais atraíram os alunos depois do gabarito. Isso se explica tanto por se tratar de uma crença que circula socialmente quanto pelo fato de que no primeiro parágrafo essa crença é apresentada, inclusive com base em estudos científicos: a primeira sentença do texto é “até algumas décadas atrás, estudiosos diziam sem pestanejar que deveríamos ampliar ao máximo o leque de opções”. No entanto, o aluno que progrediu na leitura – ou, ainda, leu e compreendeu o título do artigo de opinião (“Excesso de ofertas”, atentando à carga semanticamente negativa do temo “excesso”) – percebeu que essa introdução, típica de textos argumentativos, é usada exatamente para ser contra argumentada. Ou seja, o texto constrói-se como um contra-argumento àquilo que parece ser o mais lógico e essa percepção permite que o aluno compreenda que essa não é a tese do autor. Nesse sentido, é relevante que os distratores mais assinalados, mesmo entre os alunos de melhor desempenho, seja exatamente a tese que o autor rejeita, indicando uma leitura superficial do texto ou mesmo, eventualmente, uma leitura incompleta.
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Exemplo 4
Nível: Avançado [ ≥ 375]
Compõe a descrição do ponto 375 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 3 – Reconstrução da textualidade.
H13 - Identificar a proposta defendida pelo autor em um texto, considerando a tese apresentada e a argumentação construída. (GI)
Comentário Este item apresenta, também, um trecho de um artigo de opinião publicado em um jornal de ampla circulação. O item afere o domínio da habilidade identificar a proposta defendida pelo autor em um texto, considerando a tese apresentada e a argumentação construída. O tema do texto discute a pertinência e validade das cotas universitárias e, diferentemente do que se observa no texto do item anterior, o autor defende explicitamente uma tese: a de que a solução efetiva para a desigualdade é a melhora da escola básica, que deve ser “pública, gratuita e de qualidade”. A explicitude da defesa do autor é marcada, textualmente, pela expressão “o que precisamos é”, que introduz a tese, presente no último parágrafo do trecho. Em média, pouco mais que 1/3 dos alunos (36,4%) responderam adequadamente à tarefa, escolhendo o gabarito D (“defender a ideia de que a melhora do sistema educacional passa pelo oferecimento de ensino público de qualidade”) como resposta. Observando os índices específicos de cada grupo, mesmo no grupo com o melhor desempenho na totalidade da prova, pouco mais da metade (52,8%) escolheu o gabarito D. Nos grupos 1 e 2, 20,8% e 28% dos alunos, respectivamente, tiveram êxito na realização da tarefa proposta. Nos três grupos, o distrator mais escolhidos foi o C (“expor uma análise comparativa entre o desempenho dos favorecidos pelo sistema de cotas e dos demais alunos”), sendo que nos grupos 1 e 2 essa foi a alternativa mais escolhida. De fato, essa comparação entre os desempenhos dos alunos cotistas com os demais alunos que completam um curso universitário é feita no primeiro parágrafo do trecho apresentado para mostrar que as cotas são, objetivamente, um mecanismo importante de justiça social. Assim, o autor se afasta de críticas às cotas que sejam “poluídas por ideologias”. A questão é que o autor defende a tese de que as cotas não são suficientes, por mais que apresentem resultados animadores como os relatados no primeiro parágrafo, e apenas a leitura completa e atenta permitiria ao aluno identificar qual a proposta defendida pelo autor. Assim, a prevalência do distrator C entre as respostas dos alunos dos grupos 1 e 2 – e o fato de quase ¼ dos alunos do grupo de melhor desempenho também ter escolhido esse distrator – indica uma deficiência na capacidade de fazer uma leitura global dos textos e, possivelmente, o desconhecimento de estratégias argumentativas que exploram argumentos que serão refutados.
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