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Ao observar resultados de uma avaliação de larga escala, observamos desempenhos diferentes entre escolas e entre estudantes de uma mesma escola. Nesta seção avaliam-se os principais fatores que estão associados com essas diferenças. O conhecimento dos fatores que afetam o desempenho escolar auxilia os gestores e os professores a orientarem suas ações de forma mais objetiva e pragmática, melhorando o desempenho escolar dos estudantes e diminuindo as diferenças entre eles.
O gráfico seguinte relaciona o desempenho em Língua Portuguesa e o Nível Socioeconômico (NSE) das escolas participantes do Saresp 2019. Cada pontinho do gráfico representa uma escola. Observa-se uma tendência: escolas com NSE mais elevado tendem a ter desempenho maior. Contudo, há escolas com NSE baixo que apresentaram desempenho igual, ou mesmo superior, a escolas com NSE bem mais alto. Como exemplo, destacam-se no gráfico as escolas representadas por A e B. Então, o que a escola A tem de diferente? Boas práticas pedagógicas? Boa gestão? Alto empenho dos professores? Participação da família?
Para esse tipo de estudo é necessário avaliar as proficiências dos estudantes, construir diversas medidas/indicadores baseadas nas respostas dos questionários contextuais, como é o caso do NSE. Daí, usando modelos estatísticos apropriados, avaliar o quanto essas medidas/indicadores estão associadas com o desempenho escolar. O esquema, a seguir, ilustra as etapas deste estudo, conforme realizado no Saresp 2019.
A figura seguinte mostra o nível de associação de cada fator no desempenho em Língua Portuguesa, 9º ano. Os valores sobre as setas indicam a parcela de variação da proficiência do estudante, na escala Saeb, devida a cada fator. Com respeito ao fator início da vida escolar (primeiro fator do lado direito da figura), os resultados mostram que se uma criança que entrou direto no primeiro ano escolar tivesse feito antes a Educação Infantil, resultaria num acréscimo esperado de 2,7 pontos na proficiência. Em outras palavras, estudantes que fizeram Educação Infantil obtêm, em média, 2,7 pontos a mais do que os estudantes que entraram direto no 1º ano.
Em relação ao fator nível de bullying sofrido pelo estudante (terceiro fator do lado direito da figura), a análise mostrou uma diferença média na proficiência de 10,3 pontos. Ou seja, estudantes que estão no nível alto desse fator têm proficiência média 10,3 pontos menor do que estudantes que estão no nível baixo, considerando que esses estudantes estejam no mesmo padrão em relação às demais variáveis.
Os fatores que estão do lado esquerdo da figura são considerados exógenos ao sistema escolar, porque não tem muito como os gestores escolares trabalharem para melhorar os seus níveis, com exceção, talvez, da defasagem por reprovação. Observa-se que o Nível Socioeconômico (NSE) e a Reprovação têm associação bastante alta com o desempenho. Estudantes com NSE médio têm, em média, 17,4 pontos a mais, quando comparados com estudantes de NSE muito baixo. Estudantes que tiveram reprovação em anos anteriores têm, em média, desempenho escolar 21,3 unidades a menos do que estudantes que nunca reprovaram.
Em termos da proficiência da escola, a cada 10% de aumento de estudantes com NSE médio ou superior, tende haver aumento de 1,7 unidades na proficiência, além do aumento associado a cada estudante desse grupo. A cada 10% a mais de reprovados na escola, tende haver redução de 1,0 unidade na proficiência, sem contar com a redução devido a proficiência baixa desse grupo de estudantes. Cabe destacar, também, o Índice de Complexidade da Gestão (ICG). Escolas com ICG de nível mais baixo tendem a ter desempenho melhor nas avaliações.
Mesmo com o grande efeito dos fatores exógenos no desempenho escolar, há, ainda, uma grande parcela do desempenho que pode ser explicado por fatores endógenos, àqueles em que o gestor, o professor, a família e o próprio estudante podem atuar. Já comentamos sobre o alto efeito negativo associado ao nível de bullying sofrido pelo estudante. Mas merece também destaque o efeito positivo de 8,9 pontos da qualidade da escola na percepção do estudante; do forte efeito positivo de 17,7 pontos do relacionamento escolar percebido pelo estudante; do impacto de mais de 20 pontos associado ao próprio nível de empenho do estudante; sem esquecer da participação dos pais na vida escolar dos estudantes.
Para entender melhor o quanto a escola pode fazer, imagine uma situação hipotética em que o trabalho da escola consiga fazer com que 10% dos estudantes passem dos piores níveis para os melhores níveis nos fatores endógenos, descritos do lado direito da figura. Por exemplo, 10% de estudantes que sofrem nível alto de bullying, passassem a sofrer o nível baixo de bullying; 10% dos estudantes que percebem o relacionamento escolar ruim passem a sentirem o relacionamento bom; e assim por diante. Essas mudanças resultariam num aumento esperado do desempenho escolar de, aproximadamente, 11,8 pontos na escala Saeb, o que equivale a quase 0,4 pontos no IDEB da escola. Ou seja, vale a pena trabalhar para melhorar o nível dos fatores intraescolares de sua escola.
O relatório Saresp 2019: Fatores Associados ao Desempenho Escolar descreve mais detalhadamente cada fator aqui discutido, e a associação desses com o desempenho escolar nos anos escolares avaliados pelo Saresp, tanto em Língua Portuguesa, quanto em Matemática.
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