SARESP EM REVISTA
v.1, 2017
A média de proficiência em Língua Portuguesa dos alunos da 3ª série do Ensino Médio, aferida na edição 2016 do SARESP foi 273,0; em relação à edição anterior do SARESP, a média de 2016 representa uma evolução muito positiva na proficiência em Língua Portuguesa ao final da Educação Básica. Situa-se no intervalo compreendido pelo Nível Básico de Língua Portuguesa no SARESP para a 3ª série do Ensino Médio.

Essa melhoria pode ser constatada quando se observa a queda do percentual de alunos que se classifica no Nível Abaixo do Básico:  o percentual de alunos da 3ª série do Ensino Médio classificados nesse nível experimentou queda da ordem de 5 pontos percentuais em relação ao percentual obtido para o ano anterior.

Em seguida são apresentados exemplos comentados a fim de ilustrar atividades características que os alunos de cada nível de proficiência são capazes de realizar. Além do enunciado e da solução dos itens, há uma análise gráfica da frequência de escolha de cada alternativa nos três Grupos de Desempenho sendo também fornecida, a Curva Característica do Item que associa a proficiência do respondente e a probabilidade de acertar a questão.



Tema 6 - Compreensão de textos literários.

H42 - Inferir informação pressuposta ou subentendida, em um texto literário, com base na sua compreensão global.








Comentário

Este item apresenta aos alunos o poema “Desencanto”, de Manoel Bandeira, para aferir a habilidade de inferir informação pressuposta ou subentendida, em um texto literário, considerando sua compreensão global. No poema, o eu lírico descreve o processo de escrita como algo dolorido, triste, pesado. Os primeiro e último versos amparam essa interpretação: “eu faço versos como quem chora / eu faço versos como quem morre”. Mas, para além desses dois momentos específicos em que o leitor associa os versos de forma clara ao sofrimento (chorar, morrer), a leitura do poema proporciona associar a criação poética a uma experiência dolorosa, tanto na descrição (ainda que metafórica) de como se dá a escrita (Meu verso [...] Dói-me nas veias [...] Cai, gota a gota, do coração) quanto nas escolhas lexicais: o poema é pleno de termos semanticamente associados à tristeza e ao sofrimento (desalento, desencanto, pranto, tristeza, remorso, amargo, angústia...). Em média, os alunos mostraram bom desempenho, com índice de acerto de 87%: ou seja, a maioria dos alunos puderam inferir, sem dificuldade, que “para o enunciador, escrever poesia é uma experiência dolorosa” (gabarito A). Quando considerados os índices específicos de cada grupo de alunos – 1, 2 e 3 – novamente se observa que o gabarito A foi a alternativa que mais atraiu os respondentes. Esse comportamento revela que os alunos com diferentes níveis de proficiência tiveram pouca dificuldade em resolver o problema apresentado. A maioria absoluta dos alunos dos grupos 2 e 3 acertou a resposta (90,5% e 96,5%, respectivamente), fazendo com que o percentual daqueles que escolheram os distratores seja pouco relevante. Já entre os respondentes do Grupo 1, é possível observar um pouco mais de dificuldade: o percentual de acerto registrado para esse grupo (70,4%) é bastante satisfatório, especialmente se considerado o fato de que esses alunos são aqueles que de menor desempenho na totalidade da prova. Quanto à distribuição de respostas dos alunos do Grupo 1 entre os distratores, vale notar que as alternativas D e B foram as mais escolhidas (12,3% e 9,7%, respectivamente). Ambos os distratores associam a escrita poética a qualificadores que não encontram respaldo no texto (confusa e simples). É interessante notar, no entanto, que os distratores B e D foram, também, os que mais atraíram os alunos dos grupos 2 e 3, embora em bem menor quantidade.


Tema 2 – Reconstrução dos sentidos do texto.

H06
- Localizar itens de informação explícita, relativos à descrição de características de determinado objeto, fato ou fenômeno, em um texto.








Comentário
Este item apresenta uma notícia a respeito da descoberta de um pesquisador brasileiro sobre o comportamento das onças-pintadas na época das cheias na Amazônia para aferir a habilidade que os alunos têm de localizar itens de informação explícita, relativos à descrição de características de objetos, fatos ou fenômenos. Mais especificamente, os respondentes deviam encontrar, na notícia, o que leva as onças-pintadas a subir nas árvores. A resposta – que é a descoberta noticiada – encontra-se no segundo parágrafo do texto: “A cheia dos rios da Amazônia, que deixa submersa parte da floresta por ao menos três meses ao ano, altera o comportamento das onças-pintadas que vivem na região. Acostumadas ao seu habitat natural, que é o chão, nos períodos de inundação esses animais passam a viver ‘nas alturas’...”. Trata-se, portanto, de informação fornecida explicitamente no texto, que descreve um determinado fenômeno comportamental das onças-pintadas da região do Amazonas. Considerando a média geral, a maioria dos alunos (76,9%) conseguiu resolver o problema apresentado pelo item. Observando os índices específicos de cada grupo, nos Grupos 2 e 3, o percentual de êxito foi bastante alto (85,1% e 98,1%, respectivamente). No Grupo 1, o gabarito A foi também a alternativa mais assinalada, porém por um percentual consideravelmente menor de alunos: 42,8% optaram pelo gabarito, o que significa que mais da metade desse grupo optou por um dos distratores. Analisando a distribuição do percentual desses alunos que escolheram os distratores como resposta, observa-se uma preferência pelos distratores B (17,6%) e C (18,7%) – o que também pode ser observado nos outros dois grupos, porém com um percentual bem mais baixo de respondentes. Ambos os distratores não encontram respaldo no texto: o distrator B (“acostumadas ao seu habitat original, que é o chão, a onça-pintada gosta de viver ‘nas alturas’”); já o distrator C (“a preferência da onça-pintada por criar seus filhotes nas árvores que tem entre 20 e 30 metros de altura”) pode ter chamado a atenção por conter informações que estão no texto e por parecer uma resposta plausível (as onças subiriam nas árvores especificamente para criar os filhotes como estratégia para fugir dos predadores, por exemplo).


Tema 3 – Reconstrução da textualidade.

H12 - Identificar estratégias empregadas pelo autor, em um texto argumentativo, para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras.







Comentário

Para avaliar o domínio dos alunos da habilidade de identificar estratégias empregadas em textos argumentativos para o convencimento do leitor a respeito de um determinado ponto de vista, o item utiliza o trecho de uma matéria sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte, em que vantagens e desvantagens de sua construção são apresentadas. O texto, relativamente curto e de baixa complexidade, impunha que uma série de inferências fossem feitas para que a tarefa definida – identificar a estratégia utilizada para convencer o leitor da necessidade da construção da usina – pudesse ser realizada com sucesso. O texto apresenta-se como uma visão neutra da questão, com as vantagens e desvantagens da construção de Belo Monte. Favorável à construção da hidrelétrica, o autor aponta a “vantagem óbvia”: geração de energia elétrica, indispensável para o crescimento econômico do país. Sem energia, não há crescimento, o que irá gerar, fatalmente, desemprego.  Assim, por dedução, poder-se-ia afirmar que sem a construção de Belo Monte, haverá aumento de desemprego.  Contrário à sua construção, o autor apresenta o fato de que uma área equivalente a 1/3 da cidade de São Paulo irá ser alagada, além de causar “outros desiquilíbrios ambientais” (sem apontar quais). Ao lançar mão de um argumento forte – evitar o desemprego, que está associado diretamente, na memória coletiva de indivíduos que vivem em uma sociedade como a nossa, à fome, à pobreza, ao aumento da violência – como sendo, indiretamente, a vantagem óbvia de Belo Monte, o autor do texto se aproxima do ponto de vista favorável à sua construção. Reforça essa adesão a ausência de argumentos mais concretos contrários à sua construção: não há apresentação dos impactos sociais e ambientais bastante relevantes decorrentes do fato de uma área tão grande em plena floresta amazônica ser inundada. Ao invés de mencionar consequências negativas concretas, o autor opta por falar em “alagamento de uma grade área”, sem explicitar o que isso significa exatamente. É importante notar, também, que o autor se dirige diretamente ao leitor para mostrar a mais drástica consequência da falta de energia que, supostamente, a não construção da hidrelétrica iria causar: “E se o país não cresce, você tende a perder o emprego”. Por fim, outro elemento que mostra essa aderência a um dos pontos de vista por parte do autor é o fato de que, quando são apresentados os aspectos negativos, o autor usa a terceira pessoa (“Mas, para alguns, [Belo Monte] é uma atrocidade”), materializando, na língua, seu distanciamento ideológico daqueles contrários à construção da usina. Vale observar que o mesmo não ocorre na apresentação dos aspectos positivos, em que os fatos são listados de forma direta, em asserções que parecem falar por si só: são fatos inquestionáveis (“a maior vantagem é óbvia”; “o consumo de energia sobe junto com o PIB”; “sem energia, o país não cresce”). Os índices gerais de acerto mostram que apenas 38,8% dos alunos puderam realizar a tarefa adequadamente. Considerando os índices específicos de cada grupo, apenas no Grupo 3 a maioria (63,8%) escolheu o gabarito B, identificando que a estratégia de convencimento do autor foi suscitar no leitor o temor ao desemprego. Já os percentuais de acerto nos Grupos 1 e 2 são consideravelmente mais baixos: 18,8% e 28,6%, respectivamente. O distrator mais escolhido nos três grupos foi o C, sendo que no Grupo 1 essa foi a alternativa mais assinalada. É interessante notar que exatamente o distrator C, que expressa o argumento contrário a Belo Monte, foi aquele que mais chamou a atenção de alunos de todos os grupos, com percentuais importantes de respostas: 25,8% dos alunos do Grupo1, 25,2% dos alunos do Grupo 2 e 16,8% dos alunos do Grupo 3 escolheram C como resposta.


Tema 3 - Reconstrução da textualidade.


H17 -
Organizar em uma dada sequência proposições desenvolvidas pelo autor em um texto argumentativo.







Comentário

Este item apresenta uma resenha crítica do filme “O Regresso” para aferir a habilidade de organizar em uma dada sequência proposições desenvolvidas pelo autor em um texto argumentativo. A tarefa dos alunos era identificar, em sequências com três elementos apresentadas pelas alternativas, qual delas representava corretamente a ordem de argumentos utilizados pelo autor da crítica para sustentar sua avaliação do filme. Para realizar a tarefa com sucesso, os alunos deveriam, além de estar atentos à sequência com que os argumentos são apresentados no texto base, associar esses argumentos ao modo como eles aparecem sintetizados nas alternativas. Considerando a média geral, apenas 28,7% dos alunos pôde resolver com êxito o problema apresentado pelo item. Observando os índices específicos de cada grupo, percebe-se que, mesmo no grupo com o melhor desempenho na totalidade da prova, o índice de acerto foi baixo: menos da metade dos alunos do Grupo 3 (46,3%) teve êxito em definir a sequência correta de apresentação de argumentos pelo autor. Já os percentuais de acerto nos Grupos 1 e 2 são ainda mais baixos: 16,5% e 20%, respectivamente. Nos três grupos, os distratores mais escolhidos foram A e C. Os alunos provavelmente foram atraídos pelo fato de que o primeiro elemento das sequências apresentadas nessas alternativas menciona aspectos que estão, de fato, presentes no primeiro parágrafo da resenha: a apresentação da história do filme (A) e a descrição do personagem Hugh Glass (C). Porém, o que é apresentado na sequência desses dois distratores não permite que eles sejam a resposta correta à tarefa proposta. No caso de A, a “briga mais aguardada do filme” não é, efetivamente, descrita na resenha, mas apenas mencionada para contextualizar uma crítica ao diretor; e o elogio à dedicação do protagonista só ocorre no fim do texto, sendo o último argumento apresentado na resenha. O mesmo pode ser observado em relação aos últimos elementos das sequências apresentadas pelos distratores A e C: a apresentação do diretor do filme e o reconhecimento de sua habilidade com closes fechados estão no segundo parágrafo da resenha e não são, portanto, os últimos argumentos, como constam em A e C, respectivamente. A necessidade de se fazer leitura cuidadosa da resenha e de relacionar os argumentos do texto base com as sínteses presentes nas alternativas é, provavelmente, a razão de o item ter se mostrado tão desafiador para tantos alunos, mesmo para aqueles com percentuais mais altos de aproveitamento da prova.