v.1, 2017 |
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A média de proficiência em Língua Portuguesa dos alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental, aferida na edição 2016 do SARESP foi 237,4 e praticamente se iguala à média registrada na edição 2015 da prova ( 237,8). Situa-se no intervalo compreendido pelo Nível Básico de Língua Portuguesa no SARESP para o 9º ano do Ensino Fundamental.
A maioria (75,6%) dos alunos desse ano escolar se classifica nos níveis Básico e Adequado e é também observado que o percentual de alunos classificados no Nível Abaixo do Básico experimentou um discreto incremento em relação ao ano anterior da prova.
Em seguida são apresentados exemplos comentados a fim de ilustrar atividades características que os alunos de cada nível de proficiência são capazes de realizar. Além do enunciado e da solução dos itens, há uma análise gráfica da frequência de escolha de cada alternativa nos três Grupos de Desempenho sendo também fornecida, a Curva Característica do Item que associa a proficiência do respondente e a probabilidade de acertar a questão.
Tema 2 – Reconstrução da textualidade.
H08 - Inferir a tese de um texto argumentativo, com base na argumentação construída pelo autor.
Comentário
Para avaliar a habilidade que alunos têm de inferir a tese de um texto argumentativo, considerando a argumentação desenvolvida pelo autor, o item apresenta um trecho curto de uma reportagem sobre os impactos ambientais de uma hidrelétrica. No primeiro parágrafo do texto, são apresentados os impactos sociais e ambientais que a construção do reservatório de usinas hidrelétricas causa, o que desconstrói a mito de que a energia gerada em usinas desse tipo é limpa. O segundo parágrafo se inicia exatamente com a afirmação de que não há, de fato, nenhuma forma de geração de energia que seja completamente inofensiva em termos sociais e ambientais. Sempre há impactos e, para demonstrar esse fato, o autor traz um segundo exemplo, que é a energia eólica, cuja geração costuma ser referida como limpa e sem impactos, na medida em que utiliza a força dos ventos. O texto aponta, a partir da declaração de um pesquisador da área, que mesmo ela causa impactos (ruído, poluição sonora e visual causadas pelas torres de geração, etc.). Percebe-se, assim, que ainda que o título da reportagem faça referência aos impactos das hidrelétricas, outras formas de geração de energia são também mobilizadas para mostrar que “não existe forma de geração de energia 100% limpa”. A tarefa dos alunos era identificar que esse é o ponto de vista defendido pelo autor do texto, considerando a argumentação apresentada.
A média geral de acerto dos três grupos mostra que 74,7% dos alunos escolheram como resposta a alternativa correta C. Considerando os percentuais específicos de cada grupo, é possível verificar que os índices de acerto entre aqueles pertencentes aos grupos 2 e 3 foram bastante altos (79,5% e 97,1%, respectivamente). Já entre os alunos do Grupo 1, o percentual de acerto foi consideravelmente mais baixo – 43,8% – o que significa que mais da metade desses alunos (56,2%) escolheu um dos distratores. Em todos os grupos, embora nos 2 e 3 os percentuais sejam bastante baixos, o distrator mais escolhido foi o A – a natureza se mantém intacta no lago que serve de reservatório para uma hidrelétrica. Essa foi a escolha de 24% dos alunos do Grupo 1. É interessante observar que essa alternativa afirma exatamente o contrário do que a tese do texto afirma – mas vai ao encontro de uma postura muito divulgada entre leigos: a energia gerada por hidrelétricas é uma energia limpa, que aproveita as características geográficas locais para gerar energia. A ideia segundo a qual há um aproveitamento daquilo que já existe sustenta a crença amplamente difundida de que o impacto das hidrelétricas é inexistente. |
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Tema 1 – Reconstrução das construções e recepções de textos.
H03 - Identificar os interlocutores prováveis de um texto, considerando o uso de formas verbais flexionadas no modo imperativo ou de determinado pronome de tratamento.
Comentário
Para avaliar a habilidade de identificar os interlocutores prováveis de um texto, considerando o uso de formas verbais flexionadas no modo imperativo ou de determinado pronome de tratamento, o item apresenta uma campanha de alerta aos riscos de se dirigir sob efeito de medicamentos que alteram a capacidade de condução. O texto da campanha é composto por uma imagem de um carro ziguezagueando sobre uma cartela de medicamentos e por texto verbal. Em destaque, está o alerta “Não ponha os medicamentos ao volante”. E, no rodapé do cartaz, em letras pequenas, estão as seguintes orientações: “Leia no folheto dos seus medicamentos se estes afetam a sua capacidade de condução. Se for o caso, passe o volante a outro”. A tarefa dos alunos era identificar a quem a campanha se direciona, considerado as formas imperativas dos trechos “leia no folheto dos seus medicamentos...” e “passe o volante...”. Para responder à questão, era preciso perceber que os verbos no modo imperativo são utilizados para orientar quem toma medicamento, verificar se há alteração motora que afete a capacidade de condução. Deste modo, a marca que mostra que o leitor pressuposto pela campanha são motoristas que fazem uso de medicamento (conforme o gabarito B) é exatamente a orientação para que as bulas de “seus medicamentos” sejam lidas e caso causem alteração, outra pessoa deve dirigir.
A média geral dos três grupos mostra que 77,5% dos alunos escolheram como resposta a alternativa correta B, indicando que de maneira geral os alunos tiveram êxito em solucionar o problema apresentado. Quanto à distribuição de respostas nos grupos específicos de alunos, observa-se um índice de acerto bastante alto entre os grupos 2 e 3 (78,7% e 94,3%, respectivamente). No Grupo 1, pouco mais da metade (56,4%) escolheu o gabarito B como resposta. É interessante notar que em todos eles o distrator mais escolhido foi o D – “médicos que receitam remédios que afetam a capacidade de condução”. Esses alunos associaram medicamentos a médicos, e não a pacientes, e para realizarem essa associação, desconsideram que “seus medicamentos” se refere aos medicamentos que um indivíduo ingere – e não que ele receita.
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Tema 3 – Reconstrução da textualidade.
H16 - Estabelecer relações de causa/consequência entre informações subentendidas ou pressupostas distribuídas ao longo de um texto.
Comentário
Esse item trabalha com a habilidade que os alunos têm de estabelecer relações de causa e consequência entre informações subentendidas ou pressupostas distribuídas ao longo de um texto. Para tanto, apresenta ao aluno um trecho de uma reportagem sobre o fenômeno mercadológico que faz com que músicos vendam mais após suas mortes. Cita como exemplo Amy Winehouse, Michael Jackson e Elvis Presley, que continuaram gerando fortunas mesmo após seus falecimentos. O texto busca explicar o porquê de tal fenômeno ocorrer e apresenta duas razões, sugeridas por psicólogos entrevistados: trata-se de uma forma de os fãs manterem o ídolo vivo e de um efeito da incessante exposição realizada pela mídia por ocasião das mortes, o que “apimenta a curiosidade” mesmo daqueles que nem eram fãs. A tarefa dos alunos era inferir qual a relação das gravadoras e distribuidoras com o aumento nas vendas de discos de celebridades musicais mortas. Embora este tópico não seja explicitamente tratado no texto, os alunos deveriam relacionar o aumento de fãs póstumos e da venda de CDs com o consequente aumento da lucratividade das empresas que gerenciam essas vendas, isto é, das gravadoras e distribuidoras musicais – elemento que surge, de fato, apenas no comando do item. De certa forma, para realizar essa pressuposição era preciso mobilizar um certo conhecimento de mundo, a saber, o de que a indústria musical é em boa medida gerida por grandes gravadoras e distribuidoras. Ou seja, quando um artista lucra grandes fortunas, especialmente os do mundo pop, essas empresas também lucram. Assim, diante da tarefa definida pelo item, os alunos deveriam identificar entre as alternativas apresentadas qual delas era uma pressuposição válida diante dos elementos explicitados pelo texto.
Os índices gerais de acerto no item apontam que muitos alunos apresentam dificuldades quando se deparam com esse tipo de tarefa: em média, o gabarito D foi assinalado por apenas 52,1%, ou seja, pouco mais da metade dos alunos pôde reconhecer, a partir da leitura do texto, que a relação das gravadoras e distribuidoras com o aumento nas vendas de CDs “é muito grande, pois aproveitam a sensibilidade dos fãs e a exposição na mídia para explorar as vendas”, conforme consta em D. Quanto à distribuição de respostas nos grupos específicos de alunos, em todos eles o distrator mais escolhido foi o A – é nula, pois a grande procura pelo material dos ídolos depende apenas da saudade e carinho dos fãs, sendo que no Grupo 1, o percentual de alunos que escolheu esse distrator (36%) é maior do que aquele que optou pelo gabarito D (26,9%). Nos Grupos 2 e 3, o gabarito atraiu a maioria dos alunos (48,8% e 75,7%, respectivamente), mas ainda assim é relevante o percentual de alunos desses grupos que também optaram pelo distrator A: 35,2% (percentual semelhante ao do grupo 1, vale observar) no grupo 2 e 19,8% no grupo 3. Possivelmente, esse distrator mostrou-se atrativo por expor um dos motivos que, de fato, explicam o fenômeno do aumento das vendas (carinho dos fãs), segundo o texto. Mas, ao afirmar que a relação das gravadoras e distribuidoras com o aumento nas vendas de discos de celebridades musicais mortas é nula, pois o aumento de vendas está relacionado apenas com o carinho dos fãs, esses alunos desconsideram a exploração midiática abordada no texto.
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Tema 6 – Compreensão dos textos literários.
H30 - Identificar marcas do discurso indireto ou indireto livre no enunciado de um texto literário narrativo.
Comentário
O item apresenta um trecho do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, em que são relatados momentos da convivência do narrador-personagem Bentinho com Capitu. A tarefa dos alunos era identificar o tipo de discurso que predomina nas conversas narradas entre os dois personagens. No trecho selecionado como texto base do item, predomina o discurso indireto (como, por exemplo, em “Capitu chamava-me às vezes bonito, mocetão, uma flor” ou “eu retorquia chamando-lhe maluca”). Para resolver a tarefa definida, era necessário que os alunos dominassem os tipos de discurso utilizados em narrativas para introduzir as falas e os pensamentos dos personagens. Mas para além do conhecimento formal dos tipos de discursos característicos dos gêneros literários, era necessário reconhecer, também, seu funcionamento e como eles atuam na representação das vozes presentes nos textos: as alternativas apresentam os tipos do discurso seguidos de uma breve descrição de seu funcionamento, que nem sempre é, de fato, aquele do discurso em foco (caso dos distratores A e D).
Os índices de acerto apontam para a dificuldade que boa parte dos alunos apresentou para responder corretamente ao item: menos da metade dos alunos (40,7%) pôde identificar que o tipo de discurso que predomina no texto é “o discurso indireto, pois o narrador não dá fala às personagens, mas comunica ele próprio, com suas palavras, o que elas falavam durante a ocasião” (gabarito C). Quando observado o comportamento dos grupos específicos, os índices de acerto foram de 25,7%, 34,1% e 59,4% para os Grupos 1, 2 e 3, respectivamente. Esses índices de acerto apontam que mesmo os alunos com melhor desempenho na totalidade da prova – os dos Grupos 2 e 3 – tiveram dificuldade de realizar a tarefa apresentada. Em relação aos distratores, é importante notar que o mais escolhido nos três grupos foi o A – “o discurso direto, com o narrador reproduzindo a fala das personagens, em que se confundem os sentimentos destas com os do próprio narrador”. Entre os alunos do Grupo 1, essa foi a alternativa mais assinalada (28%); mas mesmo nos grupos 2 e 3, percentuais significativos de alunos a assinalaram: 28,2% e 20,6%, respectivamente. Esse é um fato que desperta a atenção, na medida em que há um erro duplo nessa alternativa: ela não representa o tipo de discurso que prevalece no trecho em análise e ela apresenta uma descrição falha do discurso direto. Por esse motivo, chama a atenção o fato de tantos respondentes, mesmo aqueles com melhor desempenho na prova como um todo, serem atraídos por esse distrator. Esses dados indiciam a dificuldade que os alunos encontram quando precisam mobilizar conhecimento formais e nomenclaturas referentes a elementos textuais e discursivo para resolver com êxito uma tarefa de leitura.
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