SARESP EM REVISTA
Exemplo 1
Nível abaixo do básico
Compõe a descrição do ponto 125 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H36 - Identificar uma interpretação adequada para um determinado texto literário.
Prática de Linguagem: Leitura / escuta (compartilhada e autônoma)



Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de identificar o assunto principal do texto, um trecho de narrativa literária em que há o diálogo entre duas personagens, conversando sobre qual seria a maior descoberta humana. Dona Benta expressa seu posicionamento, afirmando ser o fogo, mas seu neto Pedrinho protesta e enumera uma série de outras invenções importantes da humanidade. A avó do menino, então, reitera seu ponto de vista e justifica: a descoberta do fogo permitiu logo a descoberta do ferro e, a partir de ambos, a civilização se formou. Pela leitura do trecho, entende-se que a argumentação de dona Benta sustenta o assunto principal do texto, entendendo-se, portanto, a relevância do fogo.
Os dados mostram um alto índice de acerto em todos os grupos, o que é esperado e desejável para esta questão, relevando que as tarefas de identificação da ideia central do texto vêm sendo desenvolvidas satisfatoriamente quando se trata de itens de menor complexidade. Note-se, porém, que os grupos que marcaram os distratores equivocadamente como respostas corretas têm um desempenho diferente: no grupo de alunos de melhor rendimento, o máximo de respostas em distratores foi de 0,5%; no grupo de alunos de menor rendimento, o índice de respostas nos distratores ficou entre 6,8% e 9,6%. Esses dados mostram que um grupo expressivo de alunos ainda tem dificuldades para identificar a ideia central do texto e suas respostas foram motivadas, provavelmente, pelos termos presentes na fala de Pedrinho, que contestou a ideia inicial de dona Benta. Os alunos podem ter acreditado que a ideia central do texto tenha girado em torno das invenções humanas que o menino enumerou, perdendo-se, desse modo, o foco na ideia principal que conduziu a conversa entre os dois personagens. Por esse entendimento, o trabalho com essa habilidade em sala de aula requer atenção dos docentes para que explorem tanto a ideia principal que se estabelece nos textos quanto as ideias secundárias, assinalando-as e hierarquizando-as para que os alunos entendam como elas se articulam e estão a serviço da produção de sentido nos textos.
Exemplo 2

Nível básico
Compõe a descrição do ponto 175 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H25 - Identificar o sentido conotado de vocábulo ou expressão utilizados em segmento de um texto literário, selecionando aquele que pode substituí-lo por sinonímia no contexto em que se insere.
Prática de Linguagem: Leitura / escuta (compartilhada e autônoma)






Comentário
O item avalia se o aluno é capaz de inferir o sentido de uma expressão extraída de um texto literário. Trata-se de uma expressão de valor adverbial de intensidade – à beça.
A tarefa de inferência de sentido foi realizada de forma muito producente pelo grupo de alunos de maior rendimento, no qual o índice de acerto chegou a 96,8%. Ou seja, para esse grupo, o entendimento da expressão não foi um problema na tarefa de leitura proposta. Quando se analisa, contudo, o grupo de menor rendimento, identifica-se uma situação bastante diversa, pois o índice de acertos ficou em 40%, média que representa menos da metade do outro grupo. Por conta disso, os distratores receberam altos índices de resposta, variando de 12,6% a 28,2%. Entende-se, então, que a questão que foi muito fácil para um grupo, representou muita dificuldade para outro. Quando se analisa a expressão proposta para a resolução do item, vê-se que “à beça” não é tão usual, embora também não de todo desconhecida. Provavelmente, os alunos com melhor rendimento tenham estado mais expostos a bens culturais (livros, revistas etc.) em que a expressão possa ter aparecido. Pode-se, também, aventar a possibilidade de usos mais frequentes da expressão nos grupos sociais a que pertencem. A diferença nos índices sinaliza a necessidade de exploração de expressões da língua portuguesa, sejam elas formais ou informais, uma vez que o conhecimento de um número maior dessas expressões favorece a melhor comunicação dos alunos em diferentes contextos em seus cotidianos. Vale considerar, por fim, as possíveis estratégias de leitura dos alunos mais atentos à formulação do item: descartando-se o gabarito, os distratores são marcados pelo traço semântico da ausência/escassez: “pouco”, “um pingo” e “quase nada”. Assim, a única alternativa que apresenta sentido oposto é “bastante”. Esse tipo de estratégia permite eliminar com certa segurança as alternativas incorretas.
Exemplo 3

Nível adequado
Compõe a descrição do ponto 225 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H34 – Identificar o enunciador do discurso direto, em um segmento de narrativa literária.
Prática de Linguagem: Leitura / escuta (compartilhada e autônoma) Análise linguística / semiótica




Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de reconhecer, em um trecho de narrativa literária, a personagem a quem pertence a fala “– Esta é a planta da nossa casa que você desenhou?”. Analisando-se a narrativa, conclui-se que há um narrador em primeira pessoa, que se chama Roni. Esse narrador insere na sua história uma conversa que teve com o avô, quando se referiram à planta da casa onde Roni morava. Pelo encadeamento das falas, que se alternam entre avô e neto, depreende-se que a pergunta transcrita no item foi feita pelo próprio narrador (Roni), resposta a que se pode chegar por dois caminhos: 1. observando-se a alternância entre as falas, sendo que a primeira e a terceira são de Roni, e a segunda e a quarta são do avô do menino; 2. observando-se as informações iniciais do texto, nas quais Roni explica que o avô é um arquiteto, portanto a pergunta sobre a planta da casa seria feita pelo menino ao avô e não o contrário.
A análise de acerto do item mostra que a questão representou certa dificuldade para os alunos. No grupo de melhor rendimento, o índice de acertos ficou em 77, 7%. O distrator “pelo avô de Roni” foi marcado por 19,6% dos alunos, o que mostra que, somado aos índices dos demais distratores, houve mais de um quinto dos alunos com dificuldade para responder ao item. No grupo de menor rendimento, essa dificuldade foi ainda mais acentuada: o gabarito foi assinalado por apenas 21,7%, o que mostra que os distratores foram escolhidos por 78,3% dos alunos. Dessa forma, os resultados mostram que os alunos precisam ser trabalhados quanto ao domínio do discurso direto no interior das narrativas. A maior parte deles que errou em ambos os grupos considerou que a fala transcrita no comando do item era do avô de Roni, quando, na verdade, era uma fala do narrador. A organização das informações em discurso direto precisa ser detalhadamente trabalhada com os alunos para que eles possam identificar o fluxo das informações e como o discurso direto organiza as falas e o sentido no texto. Cabe observar, ainda, que o distrator “pela mãe de Roni” foi assinalado por 20,6% dos alunos. Todavia, o texto não faz nenhuma alusão a essa mãe. Provavelmente, os alunos tenham assinalado esse distrator afetados pelo sentido da expressão “nossa casa”, ou ainda, por mera distração, sem se atentar às informações textuais. Com relação ao distrator “pela avó de Roni”, com índice de 14,4%, é possível que os alunos tenham se confundido com a grafia, muito próxima de “avô”. De qualquer forma, tanto um distrator quanto outro poderiam ter sido deixados de ser assinalados por meio de uma leitura mais atenta do texto, que é razoavelmente curto.
Exemplo 4

Nível Avançado
Compõe a descrição do ponto 250 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H20 – Distinguir um fato da opinião explicita enunciada em relação a esse mesmo fato, em segmentos contínuos de um texto.
Prática de Linguagem: Leitura / escuta (autônoma)




Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de identificar uma opinião, dentre outras. Para a tarefa de leitura, o gênero textual escolhido foi uma notícia, que trata da percepção dos estudantes que prestaram as provas do vestibular da Unicamp. Para a maioria, como assinala o texto no período inicial, as questões de história foram fáceis e as de química foram difíceis. Para colaborar com esse ponto de vista, selecionou-se o depoimento de um aluno que prestou vestibular para o curso de educação física. Em seguida, apresentou-se o depoimento de um estudante amazonense, que gostou do teste de química, mas considerou a prova de história complicada. Na prática de leitura, para analisar as diferentes opiniões, os alunos deveriam observar, além do depoimento de cada vestibulando, a expressão “Ao contrário dos colegas”, que sinaliza o ponto de vista do estudante amazonense.
Analisando-se os índices de acerto, constata-se que o item representou uma tarefa regular para o grupo de melhor rendimento e uma tarefa difícil para o de menor rendimento. No primeiro, 65, 6% acertaram a resposta do item. Todavia, 34,4% erraram a resposta correta, tendo sido o distrator “a prova de história fácil e a de química difícil” assinalado por 30,1% dos alunos. No segundo grupo, apenas 14,9% dos alunos assinalaram o gabarito, ou seja, 85,1% erraram a resposta, com índices consideráveis nos três distratores: A (23,8%), B (25,7%) e C (32,8%). A alternativa C é formada por um enunciado que fez com que mais de 30% dos alunos de cada grupo a tomasse como certa. Isso pode ter ocorrido pelo fato de ter sido desconsiderada a informação “diferentemente” do comando, bem como o fato de eventualmente os alunos não terem entendido que o ponto de vista do vestibulando amazonense divergia do ponto de vista da maioria dos entrevistados. Em relação às alternativas A e B, os alunos podem ter feito uma leitura parcial, recorrendo a informações superficiais do texto, já que os termos “fáceis” e “difíceis” aparecem explicitamente em enunciados sobre as provas. Os resultados apontam a necessidade de se trabalhar de forma mais sistemática com a distinção de opiniões em textos de gêneros diversos, explorando a forma como os diferentes pontos de vista vão sendo apresentados nos textos e articulados em razão dos sentidos. Do mesmo modo, é necessário mostrar que o entendimento dos textos decorre de uma leitura atenta, analisando as relações de sentido estabelecidas nos enunciados e entre os enunciados, as quais não podem ser depreendidas com leituras apressadas ou parciais das informações apresentadas. Complementando-se, as práticas de leitura devem buscar capacitar os alunos para entenderem como o autor do texto, seja este de que gênero for, vai recorrendo a estruturas e expressões linguísticas para organizar as informações e produzir sentido, tal como ocorre com o emprego da expressão “Ao contrário dos colegas”, que é chave para o entendimento dos diferentes pontos de vista articulados no texto.