SARESP EM REVISTA
Exemplo 1

Nível Abaixo do Básico

Compõe a descrição do ponto 225 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura – SARESP
H13 - Identificar a proposta defendida pelo autor em um texto, considerando a tese apresentada e a argumentação construída.
Prática de Leitura: artigo de opinião.





Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de reconhecer o ponto de vista defendido em um texto argumentativo. A tarefa apresentada baseia-se na leitura de um artigo de opinião publicado em mídia jornalística, no qual a articulista discorre sobre a importância de os pais terem paciência em relação ao comportamento dos filhos, que deve ser criteriosamente observado por um bom período. A falta de paciência, segundo a autora do texto, decorre das pressões e valores sociais demandados pela configuração atual da sociedade.
Analisando os resultados, a questão foi satisfatoriamente acertada nos dois grupos, observando-se que, no de melhor rendimento, o índice de acerto foi de 98%, portanto uma questão que não apresentou problemas para ser resolvida. O resultado é bom também para o grupo de menor rendimento, com o índice de acerto de 59,5%. Fica evidente que a dificuldade para acertar a questão ficou concentrada neste grupo, já que 40,5% erraram a resposta. Dentre esses, 15,4% assinalaram o distrator A, no qual se afirma que “as crianças não têm muita paciência com seus pais.” Provavelmente, os respondentes leram de forma invertida as informações do texto, no qual se afirma que pais e mães têm cada vez menos paciência com seus crianças e adolescentes. O distrator C foi assinalado por 12,4% dos respondentes, que não devem ter entendido a informação do texto de que os pais devem entender o contexto da vida dos filhos para “identificar motivos para seu comportamento atual”. Assim, muitos alunos podem ter acreditado que o distrator “os filhos não têm motivo para o mau comportamento” seja o ponto de vista defendido pela autora. Quanto ao distrator D – “os pais têm pouco tempo para brincar com os filhos” –, embora seja uma inferência possível em relação a pais com pouco tempo devido às pressões múltiplas (trabalho, deslocamento, tarefas do lar etc.), não configura um ponto de vista defendido pela autora, que trata da dificuldade de criar os filhos, da qual decorre a falta de paciência deles. Os resultados sinalizam a necessidade de trabalhar a organização do texto argumentativo, analisando-se a tese desenvolvida e os argumentos selecionados e hierarquizados para defender um determinado ponto de vista. Se, por um lado, o grupo de melhor rendimento mostra que a habilidade já está devidamente dominada, por outro, o grupo de menor rendimento ainda precisa refinar o trabalho com textos argumentativos, sobretudo para entenderem como o sujeito-autor se coloca no texto e de que estratégias linguístico-discursivas ele se vale para apresentar e fundamentar seu ponto de vista.
Exemplo 2

Nível Básico

Compõe a descrição do ponto 275 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura
H15 – Estabelecer relações de continuidade temática no texto por meio de expressão que retoma parte das informações precedentes.
Prática de Linguagem: Análise linguística / semiótica




Comentário
O item avalia se o aluno é capaz de estabelecer relações de continuidade temática no texto por meio de expressão que retoma parte das informações precedentes. Para realizar a tarefa, os alunos tinham de ler o texto e, depois, associar a expressão “Esses problemas têm a mesma raiz...” com informações presentes na superfície do texto e já apresentadas previamente. Trata-se de um recurso de coesão referencial, em que as informações vão formando cadeias coesivas. O foco para a resolução estava em duas palavras especificamente: “Esses” e “problemas”. A primeira, porque indica a retomada de elementos anteriores; a segunda, porque sinaliza um aspecto negativo dessas informações. Observando este último termo – “problemas” –, os alunos que leram atentamente o texto e o comando do item já teriam condições de destacar com tranquilidade os distratores, uma vez que eles apresentam aspectos positivos relacionados aos smartphones. A análise dos resultados mostra que o item foi considerado fácil para o grupo de melhor rendimento, com mais de 90% de acerto. Todavia, para o grupo de menor rendimento, o índice de acerto foi pouco mais de 25%. Conforme se explicou, os respondentes deveriam entender que a expressão, além de retomar uma informação do texto, tinha foco em um aspecto negativo tratado. O texto apresenta o desempenho dos smartphones e dos notebooks, dando ênfase na diferença que há entre a praticidade dos primeiros e as limitações dos segundos. A intenção de tematizar a diferença aparece claramente no texto, por meio da frase: “É completamente diferente.” Os alunos que responderam aos distratores provavelmente fizeram uma leitura superficial do texto e do comando do item, deixando-se influenciar pelo começo das informações, todas elas direcionadas à praticidade e à funcionalidade dos smartphones, esquecendo-se do traço semântico negativo presente no vocábulo “problemas”, conforme seu emprego no texto. Conclui-se, portanto, que, embora o grupo de melhor desempenho tenha conseguido realizar muito bem a resolução do item, o grupo de menor desempenho o fez com expressiva dificuldade, o que sinaliza que as práticas de leitura precisam explorar: 1. o sentido global do texto, em função do arranjo e hierarquização das informações; 2. o sentido pontual de termos e expressões, que são decisivos para o entendimento do texto, tanto em referência à coerência local (em passagens específicas do texto), como em referência à coerência global (o sentido do texto, como totalidade), como se pode comprovar pelo termo “problema”, cujo sentido parece ter sido ignorado por expressiva parcela de respondentes; 3. as cadeias coesivas e a forma como as informações se articulam na superfície do texto e a necessidade de entender essas relações para se chegar aos sentidos propostos pelo sujeito-autor do texto.
Exemplo 3

Nível adequado

Compõe a descrição do ponto 350 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura
H14 – Identificar argumentos e contra-argumentos explícitos em texto argumentativo.
Prática de Linguagem: Leitura





Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de identificar a opinião em um texto de gênero argumentativo. Para realizar essa tarefa, os alunos leram um artigo de opinião no qual a autora argumenta que as escolas perpetuam as desigualdades. uma vez que, desde cedo, estimulam a competição entre as crianças. Para combater esse modelo de escola, segundo a autora, as crianças deveriam reconhecer-se como seres diferentes uns dos outros, sem que isso configurasse um problema social. No comando do item, solicitou-se aos alunos que, entendendo a concepção de primeiras noções de justiça na escola, identificassem a ideia de educação refutada pela autora.
A análise dos resultados mostra que os dois grupos de respondentes tiveram dificuldade para a resolução da questão, já que nenhum deles chegou a 50% de acerto na resposta: no primeiro, o índice de acerto foi de 42%; no segundo, 15,9%. Os alunos provavelmente tiveram dificuldade de entender o sentido do verbo “refutar” no comando do item. Ou seja, para resolver o problema proposto, eles deveriam buscar um posicionamento contrário àquilo que defende a autora. Nos dois grupos, o distrator mais assinalado foi “vise ao desenvolvimento nos alunos da consciência social”, o que mostra que os alunos entenderam que deveriam buscar uma informação compatível com o posicionamento da autora – e não contrária a ele. Vê-se, pois, que o verbo “refutar” criou um ruído na resolução para aqueles alunos que não conheciam razoavelmente o sentido do termo. Essa constatação também pode ser aplicada aos demais distratores. Dessa forma, entende-se que as práticas de leitura na escola devam fortalecer o domínio das relações de sentido tanto no aspecto global quanto nas passagens singulares, elucidando os sentidos de termos e expressões, com vistas à ampliação do léxico dos alunos, de tal modo que não sejam impedidos de resolver tarefas de leitura pelo desconhecimento vocabular. Ainda que muitas vezes se suponha que os alunos já tenham um bom domínio de vocabulário pelo fato de estarem em série final do Ensino Médio, é bom lembrar as diferentes histórias de vida e de leitura dos alunos, as quais são bastante heterogêneas e impõem um grande desafio para discussão e ampliação vocabular em sala de aula.

Exemplo 4

Nível avançado
Compõe a descrição do ponto 400 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura
H41 - Comparar e confrontar pontos de vista diferentes relacionados ao texto literário, no que diz respeito a histórias de leitura; deslegitimação ou legitimação popular ou acadêmica; condições de produção, circulação e recepção; agentes no campo específico (autores, financiadores, editores, críticos e leitores).
Prática de Linguagem: Leitura






Comentário

O item avalia se o aluno é capaz de relacionar informações entre dois textos, um deles literário e o outro de crítica literária. Para realizar a tarefa, os alunos leram um texto do crítico Alfredo Bosi que discorre sobre a obra de José Lins do Rego, chamando a atenção, ao final do texto, para a representação da gama étnica e social da região; e leram, também, um trecho de Doidinho, do referido autor, no qual o narrador conta a visita do avô Zé Paulino, um coronel reconhecido, com cuja presença o autor queria impactar seus colegas, dado o prestígio social do avô. O item solicitou que os alunos identificassem a figura representativa do contexto histórico e social.
Os resultados mostram que os alunos dos dois grupos tiveram expressiva dificuldade para resolver a questão. Para o grupo de melhor rendimento, o índice de acerto foi de 33,6% (pouco mais de um terço do total dos respondentes); para o de menor rendimento, 23,3% (pouco mais de um quinto do total de respondentes). Com base nesses dados, entende-se que os alunos fizeram uma leitura superficial do texto ou tiveram dificuldade de relacionar os dois textos. De qualquer forma, é preciso observar que, no texto de José Lins do Rego, a centralidade da narrativa está na personagem do Coronel Paulino. Ainda que o texto seja narrado em primeira pessoa, o narrador atribui ao avô o peso social de sua condição: “O meu avô estava ali para me elevar dessa classe infeliz dos esquecidos...”. Assim, evidencia-se que a maioria dos alunos não conseguiu entender por que o narrador descrevia com tanta ênfase o avô e o colocava acima de todos no contexto da narrativa. Mais ainda, desconsideraram a informação presente no comando do item que faz uma clara referência aos senhores de engenho: “o contexto histórico e social dos senhores de engenho”. Entre as alternativas, apenas o gabarito traz um elemento compatível com essa figura do contexto histórico e social assinalado: Zé Paulino, avô do narrador. Os distratores trazem elementos que não agregam essas características: o próprio narrador (um menino), o colega do narrador (um menino), o pai do colega do narrador (não houve nenhuma descrição dessa personagem), o povo (incoerente pensar que todo o povo seria composto de senhores de engenho). Acredita-se que os respondentes tenham se confundido na tarefa de relacionar os dois textos, o que sugere a necessidade de se trabalhar com mais regularidade a prática de atividades intertextuais, por meio das quais os alunos possam entender as relações de sentido estabelecidas no diálogo entre os textos. Também é importante que se explorem as leituras literárias, subsidiando os alunos para que entendam não só o texto literário em si, mas principalmente a sua relação com o contexto histórico e social em que foi produzido.