Exemplo 1
Nível: Básico [200 a < 275]
Compõe a descrição do ponto 200 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 1 – Reconstrução das condições de produção e recepção dos textos.
H03 - Identificar os interlocutores prováveis de um texto, considerando o uso de formas verbais flexionadas no modo imperativo ou de determinado pronome de tratamento. (GI)
Comentário Para avaliar a habilidade que os alunos têm de identificar os interlocutores de um texto, a partir da observação das formas verbais flexionadas no modo imperativo e de determinados pronomes de tratamento, é apresentado um pequeno texto, similar a uma coluna, publicado na Revista Capricho, em que a autora, que assina ao final, dá dicas de como realizar uma festa de 15 anos gastando pouco. A autora dialoga diretamente com suas leitoras (“Olá, meninas! Tudo bem?”, “decidi mostrar para vocês”, “Escrevam para mim, fofas!”, entre outras marcas de interlocução explícita) e, juntamente das dicas de economia, faz uma reflexão sobre a importância excessiva que se pode dar à opinião alheia (“Acredito que nós devemos parar de nos importar com o que os outros vão achar disso e daquilo”), remetendo à ideia de que economizar em uma festa de 15 anos pode ser algo mal visto socialmente, especialmente nos círculos em que realizar festa de 15 anos é uma tradição e algo grandioso. Os alunos deveriam identificar quem são interlocutores desse texto (quem fala com quem, em outras palavras) a partir das expressões “Olá, meninas”, “Sou uma menina sonhadora” e “Escrevam para mim, fofas!”, como indicado no enunciado do item.
Os índices de acerto são bastante altos, indicando que a maioria dos respondentes não encontrou dificuldade em resolver o problema proposto. A média geral de acerto dos três grupos mostra que 91,6% escolheram como resposta o gabarito D, “uma garota escreveu esse texto para outras garotas”. Considerando os percentuais específicos de cada grupo, é possível verificar que os índices de acerto entre aqueles pertencentes aos Grupos 2 e 3 foram bastante altos (96,3% e 99,5%, respectivamente). Entre os alunos do Grupo 1, observa-se também um alto percentual de acerto: 72% escolheram o gabarito. Entre esses alunos, os distratores A e B foram os mais assinalados, com 10,3% e 11,1%, respectivamente: apesar de não responderem corretamente à questão, é interessante notar que ambas as alternativas colocam mulheres como interlocutoras (mãe e filha), indicando que mesmo esses alunos puderam compreender que a temática é típica do universo feminino.
De fato, além da explicitude das marcas apontadas, o conhecimento de mundo dos alunos certamente poderia colaborar para identificar a resposta correta (ou, pelo menos, evitar a mais incorreta, isso é, C): a revista Capricho é uma publicação tradicional voltada para o público jovem feminino. Além disso, a própria temática, festa de 15 anos, é típica do universo jovem feminino. Deste modo, compreender que o texto é um diálogo entre garotas era algo que poderia ser depreendido a partir da consideração do veículo em que o texto foi publicado. Todos esses elementos certamente colaboraram para os altos índices de acerto dos alunos. |
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Exemplo 2
Nível: Básico [200 a < 275]
Compõe a descrição do ponto 250 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 3 – Reconstrução da textualidade.
H18 - Inferir a tese de um texto argumentativo, com base na argumentação construída pelo autor.
Comentário
Este item demanda que os alunos mobilizem, para a resolução do problema proposto, a habilidade de inferir a tese do autor em um texto argumentativo. É necessário, a partir da leitura do texto apresentado – um artigo jornalístico em que é discutido o uso de uniforme entre alunos do Ensino Básico – depreender que a posição do autor é favorável ao uso dos uniformes. Essa posição não é marcada explicitamente, mas por meio de indícios diversos que sustentam a argumentação ao longo do texto. O autor inicia o texto situando a polêmica de forma aparentemente neutra: indica que há dois posicionamentos possíveis, o daqueles que são favoráveis ao uso e aqueles contrários – sem se filiar a nenhum dos dois. A neutralidade acaba neste momento, quando o autor afirma que apesar dos argumentos favoráveis (praticidade e segurança) e contrários (cerceamento da autonomia e liberdade), o fato é que a maioria das escolas opta pelo uso do uniforme; e, na sentença seguinte, retoma anaforicamente esse uso pela maioria como uma “vitória”, termo de conotação absolutamente positiva. O que se segue, nos próximos dois parágrafos, é uma argumentação a favor dos uniformes, com apresentação de dados e fatos que sustentam essa defesa (praticidade, economia, segurança, controle de quem entra na escola, redução da discriminação). A tarefa definia que era preciso identificar a que tese o argumento da segurança dentro e fora da escola servia.
Os altos índices de acerto (na média, 78% dos alunos optaram pelo gabarito A, “o uso do uniforme escolar é importante”) apontam para o domínio da habilidade por parte dos alunos, especialmente daqueles dos Grupos 2 e 3, entre os quais os índices de acerto foram de 78,3% e 93,4%, respectivamente. Entre os alunos do grupo 1, 55,5% assinalaram o gabarito, o que, por outro lado, indica que quase a metade (44,5%) desses alunos optaram pelos distratores. Dentre eles, os mais assinalados foram B e C – não só entre os alunos do grupo 1, mas dos 2 e 3 também (embora em percentuais consideravelmente menores) – que trazem duas afirmações presentes no primeiro parágrafo (“a utilização do uniforme inibe os alunos” e “a utilidade do uniforme ainda divide opiniões”). No entanto, apesar dessas afirmações estarem presentes no texto, elas não funcionam, de fato, como uma tese (ou uma ideia a ser defendida, usando os termos do enunciado do item), mas sim como um argumento contrário ao uso de uniformes (no caso de B) e como uma contextualização da polêmica (no caso de C). Assim, os alunos que optaram por essas alternativas indicam não terem compreendido nem a tarefa, de forma mais específica, nem o texto, de forma mais geral, pois não conseguem diferenciar tese de argumentos ou de introdução ao assunto sobre o qual se argumenta. No entanto, é importante ressaltar que a maioria dos alunos pode realizar a tarefa com sucesso, indicando que diante de textos de média complexidade, a maioria domina uma habilidade importante para a leitura de textos argumentativos.
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Exemplo 3
Nível: Adequado [275 a < 325]
Compõe a descrição do ponto 300 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 2 – Reconstrução dos sentidos do texto.
H09 - Organizar em sequência lógica itens de informação explícita, distribuídos ao longo de um texto.
Comentário
Esse item demanda compreensão global do texto para que o aluno possa organizar em uma sequência adequada as informações apresentadas. Para tanto, era necessário ler um excerto em que é relatado brevemente como a Internet nasceu. O texto, prioritariamente expositivo, explica como a guerra entre EUA e Rússia, a Guerra Fria, motivou a criação da maior rede de computadores, que, conforme indica o título, iniciou uma nova era. A tarefa dos alunos é identificar que incialmente ligada aos militares, a Internet passou a ser usada também por cientistas e universidades.
Para resolver com êxito a tarefa, o aluno deveria ler o texto por completo, já que os três primeiros parágrafos expõem as razões militares que levaram os EUA a criarem uma rede interligada de computadores e apenas no último parágrafo é que o uso no domínio científico é introduzido. Somente com essa leitura global do texto os alunos poderiam optar pelo gabarito B, “Primeiro os militares americanos foram os detentores dos dados armazenados nos computadores, em seguida foram os cientistas”. No entanto, considerando as médias gerais, apenas pouco mais da metade dos alunos (53,3%) conseguiu resolver a questão com sucesso. Considerando cada grupo específico, apenas entre os alunos do Grupo 3 houve um percentual de acerto elevado: 65,7% escolheu o gabarito. Já entre os respondentes dos Grupos 1 e 2, os percentuais de acerto foram consideravelmente mais baixos: 25,2% e 40,9%, respectivamente. Em todos os grupos, o distrator A, “Primeiro nasceu a internet, depois os cientistas russos passaram a controlar as informações armazenadas nos computadores”, foi o mais escolhido, sendo que no grupo 1, esse distrator atraiu mais alunos que o próprio gabarito (31,1%). Uma hipótese para a dificuldade que parte dos alunos tiveram em responder de forma adequada ao item é o fato de que era necessária a leitura total do texto, já que as duas informações sequenciadas no gabarito não estão concentradas em uma parte específica, mas ao longo de todo o excerto apresentado. Assim, o desempenho no item indica a dificuldade que os alunos têm em responder tarefas que demandam compreensão global de textos de extensão mediana (em um contexto de prova), ainda que de complexidade baixa e com informações explícitas claramente apresentadas.
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Exemplo 4
Nível: Avançado [≥ 325]
Compõe a descrição do ponto 350 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP
Tema 2 – Reconstrução dos sentidos do texto.
H12 - Inferir opiniões ou conceitos pressupostos ou subentendidos em um texto.
Comentário
O item avalia a habilidade de leitura inferencial dos alunos, mais especificamente, a de identificar conceitos ou opiniões pressupostos em um texto. Para tanto, é apresentado um pequeno excerto que comenta como a humanidade, desde o início do terceiro milênio, tem sido bem-sucedida em resolver problemas como a fome, doenças e guerras. A tarefa a ser realizada é identificar qual o pressuposto em relação ao período que antecede o terceiro milênio, no que diz respeito à lida com os problemas mencionados (fome, guerra, doenças). É preciso, para realizar adequadamente a tarefa proposta (identificar qual das alternativas representa o que o autor diz a respeito do período anterior ao terceiro milênio), atenção especial à seguinte passagem: “É evidente que esses problemas não foram completamente resolvidos, no entanto, foram transformados de forças incompreensíveis e incontroláveis da natureza em desafios que podem ser enfrentados”. Isto é, a identificação do pressuposto, necessária para responder corretamente à tarefa, demandava a compreensão de uma contraposição entre um antes, em que os problemas eram “forças incompreensíveis da natureza”, e um hoje, que encara os mesmos problemas como “desafios que podem ser enfrentados”. Somente assim seria possível assinalar o gabarito D, isto é, compreender que, para o autor, antes do terceiro milênio, a humanidade “não era capaz de controlar a forma, as doenças e a guerra”.
A média geral de acertos foi de 29,3%, ou seja, mais de dois terços dos alunos escolheram outras alternativas que não o gabarito D, sendo o distrator B (“já controlava a fome, as doenças e a guerra com bastante sucesso”) o mais assinalado (31%). Considerando os percentuais de acerto de cada um dos três grupos, observa-se que em todos eles os alunos encontram dificuldade para solucionar o problema: mesmo entre os alunos com melhor desempenho na totalidade da prova, o percentual de acerto foi de 41,3%, indicando que mais da metade desses alunos não conseguiram realizar a leitura inferencial demandada pela tarefa. Nos Grupos 1 e 2, os índices de acerto foram, respectivamente, 19,4% e 22%. Nos três grupos, foi também o distrator B o mais assinalado. Essa escolha indica como não ser capaz de ler inferência interfere negativamente na compreensão global do texto, que, no excerto selecionado para compor o item, tem como ideia central exatamente essa evolução da humanidade. O distrator B dissolve essa comparação entre o passado (mais atrasado) e o presente (mais evoluído) e, assim, indica como falta de habilidade para inferir conceitos e opiniões interfere diretamente na compreensão global de textos.
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