Exemplo 1 Nível: Básico [250 a < 300] Compõe a descrição do ponto 275 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP Tema 2 – Reconstrução dos sentidos do texto. H09 - Estabelecer relações entre imagens (fotos, ilustrações), gráficos, tabelas, infográficos e o corpo do texto, comparando informações pressupostas ou subentendidas. Comentário Este item apresenta aos alunos dois textos: no primeiro, lê-se um trecho de uma entrevista com um cardiologista canadense, que comenta a dificuldade implicada na mudança de hábitos de vida que são considerados de alto risco para doenças cardíacas; no segundo, é apresentado um cartaz de uma campanha de prevenção do diabetes, com ênfase na importância do exemplo dado pelos pais aos filhos (em relação, especialmente, aos hábitos alimentares). A tarefa dos alunos é identificar o que há em comum entre os dois textos, a saber, o fato de ambos destacarem a importância dos hábitos para uma vida saudável e livre de doenças (sejam doenças cardíacas, como no primeiro texto, seja diabetes, como no segundo texto). Em média, os alunos mostraram bom desempenho, com índice de acerto de 75,2%: ou seja, a maioria dos alunos identificou que os dois textos têm em comum o fato de “orientarem sobre a necessidade de adoção de hábitos saudáveis” (gabarito E). Quando considerados os índices específicos de cada grupo de alunos – 1, 2 e 3 – novamente se observa que o gabarito E foi a alternativa que mais atraiu os respondentes. Entre os Grupos 2 e 3, o gabarito E foi a alternativa assinalada pela maioria absoluta (78,8% e 95,1%, respectivamente). No entanto, no Grupo 1, apesar de o maior percentual de respostas estar concentrado no gabarito (42,3% desses alunos o assinalaram), é relevante o fato de que menos da metade tenha conseguido resolver o problema proposto com sucesso – ainda que o item tenha sido classificado como fácil. Quanto à distribuição de respostas dos alunos desse grupo entre os distratores, as alternativas mais escolhidas foram A, C e D (15,9%, 15,7% e 18,3%, respectivamente). A escolha dos três distratores indica problema de compreensão global dos textos lidos que decorre, provavelmente, de uma leitura superficial e rápida: em nenhum dos textos há menção a derrame cerebral (como consta em A); não há menção explícita em nenhum dos textos a como o sedentarismo se relaciona a doenças cardíacas e/ou ao diabetes (como consta em C); por fim, não há, igualmente, menção à semelhança física entre pais e filhos (como consta em D), ainda que as ilustrações do texto 2 mostrem pais e filhos fisicamente semelhantes. Ou seja, a escolha desses distratores não é possível a partir da leitura dos textos. É possível levantar algumas hipóteses para o porquê de tantos alunos, especialmente do Grupo 1, terem sido atraídos por eles. No caso de A e C, podemos supor que um conhecimento de mundo ou de ideias mais ou menos estereotipadas são mobilizados e levam os alunos a esses distratores: “derrame cerebral” e “sedentarismo”, apesar de não constarem nos textos lidos, são termos do campo semântico das doenças crônicas e circulam, em geral, em conjunto. Ou seja, faz sentido, apesar de não constarem nos textos, relacionar esses elementos aos textos que tratam de hábitos de vida saudáveis. Quanto a D, trata-se, efetivamente, de uma leitura apenas das imagens, sem considerar a linguagem verbal. Assim, as escolhas equivocadas de gabarito sinalizam um problema de leitura de informações explícitas presentes nos dois textos, o que impossibilita que muitos alunos identifiquem o que ambos têm em comum. |
Exemplo 2 Nível: Básico [250 a < 300] Compõe a descrição do ponto 275 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP Tema 1 – Reconstrução das condições de produção e recepção dos textos. H03 - Inferir o público-alvo provável e os objetivos do autor ou do enunciador de um texto. Comentário Este item apresenta um cartaz da campanha de vacinação para prevenção da paralisia infantil, promovida pelo Ministério da Saúde. O cartaz é composto pela imagem de uma menina fazendo o sinal de vitória com a mão, vestida de verde e amarelo. Além da imagem, lê-se informações a respeito da data do início da campanha, do público-alvo (da vacinação e do cartaz), e uma mensagem de incentivo para participação da campanha (“vamos reforçar a vitória, Brasil”). A tarefa do aluno é identificar a quem a campanha se destina e, para tanto, é preciso estar atento ao fato de que, apesar de o público a ser vacinado é o infantil (crianças menores de 5 anos), o cartaz se destina aos pais, que são os responsáveis por levar seus filhos para serem vacinados. No cartaz, isso se materializa, verbalmente, na injunção “Vacine seu filho menor de 5 anos contra a paralisia infantil”. Ou seja, para realizar a tarefa de forma adequada, o aluno deveria estar atento a essa duplicidade de “destinatários”: o da vacinação (as crianças) e o do cartaz (pais). A maioria dos alunos – 75,5% – pôde resolver com êxito a tarefa de leitura apresentada pelo item, e concluíram que o cartaz é destinado “ao público adulto, a fim de convencerem pais a levarem filhos para serem vacinados” (gabarito B). Em relação aos índices específicos de cada grupo, entre os alunos do Grupo 1, quase metade escolheu o gabarito, enquanto que nos Grupos 2 e 3 esse percentual foi de 77,2% e 91,1%. O distrator que mais atraiu respondentes nos três grupos foi o C (24,3% dos respondentes do grupo 1; 19,1%, do grupo 2; 8,4% do Grupo 3), que concluíram que o cartaz se destina “ao público infantil em geral, para convencer todas as crianças a consultarem um médico”. Essa leitura só é possível quando se desconsidera os elementos verbais do cartaz, na medida em que, em C, não há sequer menção à vacinação, elemento central e que está presente em todo o cartaz (tanto nos dizeres da parte superior, quanto nos da parte inferior). Trata-se, efetivamente, de uma leitura não autorizada pelo texto-base do item e indica que os alunos, às vezes, optam por responder às tarefas sem ler o texto que acompanha a tarefa. |
Exemplo 3 Nível: Adequado [300 a < 375] Compõe a descrição do ponto 325 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP Tema 6 – Compreensão de textos literários. H42 - Inferir informação pressuposta ou subentendida, em um texto literário, com base na sua compreensão global. Comentário Para avaliar o domínio da habilidade de inferir uma informação subentendida em um texto literário, é apresentado aos alunos um pequeno excerto do romance Grande Sertão: Veredas, em que o narrador-personagem revela um conselho recebido de Zé Bebelo a respeito do sentimento da raiva: a raiva não deve ser sentida, pois ela tira o controle de si daquele que a sente. Embora isso esteja explicitamente apresentado no trecho, a linguagem característica de Guimarães Rosa atribui maior complexidade à interpretação do excerto. A tarefa dos alunos é, a partir da compreensão global, indicar qual alternativa traduz de forma mais adequada o conselho recebido pelo narrador. Considerando os índices gerais de acerto, é possível observar que 57,7% dos alunos escolheram o gabarito C, demonstrando terem compreendido que, de acordo com o trecho lido, “ter raiva é dar o controle da sua vida para a pessoa da qual você sente raiva”. Já em relação aos percentuais de acerto de cada grupo, no Grupo 3, a tarefa solicitada foi realizada de forma adequada por 85,8% dos alunos; já nos Grupos 1 e 2, o percentual de acerto foi mais baixo: 26,1% e 56,1%, respectivamente. Em todos os grupos, os distratores D (“ter raiva é demonstrar que temos controle sobre nossas ideias e sentimentos”) e E (“quem finge ter raiva sofre mais do que quem se deixa levar por esse sentimento”) foram os mais assinalados, sendo que no grupo 1, esses distratores chamaram mais a atenção do que o próprio gabarito C. É interessante observar que apesar de curto, o fato da linguagem ser diferente da norma padrão implica uma complexidade de leitura com a qual os alunos dos grupos 1 e 2 tiveram maior dificuldade de lidar; por outro lado, é relevante também que os distratores A (“é preciso sempre estar com raiva para não ser enganado”) e B (“conselhos servem apenas para deixarem as pessoas com mais raiva”) foram pouco escolhidos mesmo entre os alunos com mais dificuldade na realização da prova. Isso demonstra que ainda que eles não tenham atingido a compreensão global do excerto, eles escolheram distratores mais compatíveis, e rejeitaram os que explicaram o sentido do texto de forma mais equivocada: enquanto D e E indicam uma não compreensão dos efeitos da raiva naquele que a sente, segundo o conselho de Zé Bebelo, A e B introduzem aspectos que não foram sequer mencionados (“ser enganado”, em A, e os efeitos de “receber conselhos”, em B). Em outras palavras, os distratores D e E estão mais próximos da resposta correta do que A e B. Neste sentido, é interessante perceber o erro desses alunos que optaram pelos distratores D e E como sendo um estágio mais avançado no trajeto rumo a interpretação adequada. |
Exemplo 4 Nível: Avançado [ ≥ 375] Compõe a descrição do ponto 375 da Escala de Língua Portuguesa – Leitura - SARESP Tema 5 – Reflexão sobre os usos da língua falada e escrita. H27 - Identificar, em um texto, as marcas linguísticas que expressam interesses políticos, ideológicos e econômicos. Comentário Este item apresenta uma manchete e o lide de uma notícia publicada em uma revista semanal, apresentada com o objetivo de aferir a habilidade que os alunos têm de identificar as marcas linguísticas que expressam interesses políticos, ideológicos e econômicos. Trata-se de um texto curto e a tarefa dos alunos é exatamente identificar qual das alternativas indica os elementos verbais que materializam o posicionamento ideológico da revista em relação ao fato noticiado, a saber, a de que um grupo de alunos causou confusão na USP. Para realizar a tarefa, os respondentes devem estar atentos a como os elementos centrais da narrativa (alunos, USP e a confusão causada) são nomeados na manchete e no lide: os alunos são referidos como “pequeno bando de estudantes”; a confusão, como “caos” e “balburdia”; e a USP, como “maior e mais importante universidade brasileira”. Assim, para compreender que, do ponto de vista da manchete e da respectiva lide, os alunos são retratados de forma pejorativa, e a USP, de forma positiva, os respondentes precisam estar atentos ao modo como a “história” é contada, o que implica uma perspectiva sempre ideologicamente situada. E, nesse sentido, as escolhas linguísticas e textuais – no caso do item, especificamente a escolha lexical – são meios de marcar posição diante dos fatos do mundo. A H27 visa avaliar exatamente essa habilidade de ler não apenas informações explícitas, mas outros elementos que compõem os textos e colaboram para a construção do sentido. Considerando a média geral, menos que 1/3 dos alunos (29,1%) puderam realizar com êxito a tarefa apresentada, o que vai ao encontro da classificação do item como “difícil”. Não se trata de um texto-base complexo ou demasiadamente longo – pelo contrário, trata-se de um texto de apenas três linhas – mas a habilidade em si demanda uma leitura de implícitos e não-ditos. Observando os índices específicos de cada grupo, mesmo no grupo com o melhor desempenho na totalidade da prova, apenas 45,1% desses alunos escolheram o gabarito C (“Há utilização de termos depreciativos para caracterizar os estudantes, em contraste com o emprego de termos elogiosos para caracterizar a universidade”). Os percentuais nos demais grupos são ainda mais baixos: apenas 17,9% dos alunos do Grupo 1, e 18,7% dos alunos do Grupo 2 escolheram o gabarito C como resposta. Nos três grupos, o distrator mais escolhido foi o B (“A palavra ‘balbúrdia’ ameniza o sentido do termo ‘caos’, utilizado no título para sintetizar a situação da universidade”), indicando que o desconhecimento do sentido de “balbúrdia” levou muitos alunos (a maioria nos Grupos 1 e 2) a escolherem o distrator B. O segundo distrator mais escolhido foi o A (“Há imparcialidade no tratamento da informação, com o emprego de termos equivalentes para caracterizar os estudantes e a universidade”). Se a escolha do distrator B está associada ao desconhecimento do sentido de um termo importante para a compreensão do texto, a escolha de A indica o desconhecimento do funcionamento dos discursos e de como posicionamentos ideologicamente podem se expressar lexicalmente. Ainda que os alunos desconhecessem o significado de balbúrdia, a carga semanticamente negativa de “caos” e “pequeno bando” é mais evidente; o mesmo vale para “a maior e mais importante universidade brasileira”, cuja carga semanticamente positiva é também mais clara. Ou seja, os alunos que leem essa manchete e esse lide e os avaliam como imparciais no tratamento da informação (e foram muitos os alunos que escolheram essa alternativa) indicam uma dificuldade importante de leitura. De fato, estar apto a ler para além das informações explícitas é o nível de proficiência em leitura que a vida em uma sociedade letrada como a nossa demanda, se o que se quer são alunos cidadãos. |